Esta é uma história da guerra em Sarajevo. Tudo se passou em 1995, não assim há tanto tempo. Estava-se na fase final do cerco à cidade, apesar de ninguém o saber. Nos últimos tempos as forças sérvias têm intensificado as provocações aos militares da ONU no terreno. Os capacetes azuis franceses têm tido uma missão complicada e alguns deles foram capturados pelos sérvios e mantidos como reféns.
É neste contexto que chega o dia 27 de Maio. São quatro e meia da manhã e doze militares franceses guarnecem os postos de controle montados em ambas as extremidades da pobre Vrbanja. Este local, onde caíram as primeiras vítimas inocentes da Guerra Civil em Sarajevo, e onde mais tarde tombaram Bosko e Admira – os Romeu e Julieta de Sarajevo, tem-se mantida como terra de ninguém, território neutro, entras as duas facções em combate.
Na escuridão da noite surge um veículo blindado francês, do seu interior surgem soldados devidamente uniformizados. O pessoal de serviço intriga-se com esta visita inesperada dos seus camaradas. E é então que se dá um golpe de teatro: os que chegam são na realidade sérvios, disfarçados, utilizando fardamento e equipamento anteriormente capturado aos franceses, e num repente aprisionam os doze capacetes azuis e assumem o controle da ponte.
Dez destes foram levados para parte incerta e os restantes dois mantidos no local como reféns.
Entretanto o preocupante silêncio rádio que se instalou começou a intrigar o comandante da unidade francesa que guarnecia a ponte. O capitão Francois Lecointre conduz a sua viatura até lá e quando se aproxima avista um militar “francês” que não reconhece. Dá meia volta e evita ser, também ele, capturado.
Quando o coronel Erik Sandahl, comandante do 4º Batalhão Francês, toma conhecimento da situação, explode em ira. Após a operação que se segue, afirma:
“- Quando os sérvios capturam os nossos soldados através de truques sujos, começam a comportar-se como terroristas; não podemos permitir isto. Temos que reagir. Chega um momento em que temos que colocar um ponto final nisto. Ponto final. E foi o que fizemos.”
O comando francês envia um grupo de 30 militares do 3º Regimento de Fuzileiros retomar o controle da ponte. São apoiados por mais 70 soldados, por seis veículos blindados ERC 90 Sagaie e várias viaturas VAB.
O capitão Lacointre, o tal que tinha escapado à captura por um triz, lidera a operação no terreno. Os fuzileiros tomam uma posição avançada, perdendo um homem, o soldado Jacki Humblot.
Este assalto é marcado pela espectacularidade: pela primeira vez desde a Guerra da Coreia, militares franceses realizam uma carga de baioneta. As viaturas blindadas dão apoio de fogo com as suas peças de 90 mm, enquanto os sérvios respondem com morteiros e peças de artilharia anti-aérea posicionadas nas colinas. Entretanto há snipers do Exército Bósnio que se juntam ao combate, atingindo por acidente um soldado francês, mantido refém pelos sérvios, que morrerá mais tarde em consequência dos ferimentos.
Balanço do ataque, que dura pouco mais de meia-hora: cinco franceses feridos, quatro sérvios abatidos e outros quatro capturados.
Os sérvios mantêm ainda em seu poder a outra extremidade da ponte mas cedem a posição pouco depois, sem combate.
Na sequência deste confronto aberto entre sérvios e forças das Nações Unidas, os oficiais franceses reportam um abrandamento significativo das provocações. Hoje em dia pode-se ver na ponte, entretanto chamada Ponte de Olga e Suada, uma placa de homenagem aos militares franceses caídos em combate no local.