Trinta anos depois de obter o mandato para administrar o território da Bósnia e Herzegovina, em 1878, a Áustria-Hungria anexou a antiga província otomana. Corria portanto o ano de 1908, e apesar das pressões da Rússia e da Sérvia, a situação tornou-se definitiva.
Foi neste contexto que o Imperador Franz Joseph deu instruções a Franz Ferdinand para assistir às manobras militares que decorreriam na Bósnia.
O arquiduque, que seria o sucessor ao trono do Império Austro-húngaro, decidiu fazer uma paragem em Sarajevo para inaugurar o novo museu que ali abriria portas. Chegou de comboio, no dia 28 de Junho de 1914, na companhia da sua esposa Sophie, proveniente de Ilidža. Na estação ferroviária aguardava-o o governador, Oskar Potiorek, com seis carros para a visita oficial.
O comandante militar da região tinha sugerido que se estabelecesse um cordão formado por soldados para a protecção da comitiva, mas a sua ideia foi recusada por razões políticas. Receava-se que uma forte presença militar nas ruas fosse mal interpretada e ferisse susceptibilidades.
O que as autoridades não sabiam é que uma equipa formada por seis homens se encontrava em Sarajevo com o objectivo de assassinar o herdeiro ao trono do Império Austro-húngaro.
Todos os elementos do comando eram membros de uma sociedade secreta, a Mão Negra, com uma forte inspiração no ultra-nacionalismo sérvio. Nunca foi possível determinar se os serviços secretos da Sérvia terão criado ou apoiado a operação, mas sem dúvida que existiram pessoas bem colocadas na hierarquia militar sérvia que estiveram envolvidas na operação.
No dia do atentado os seis elementos foram colocados ao longo do percurso que a comitiva seguiria, armados com granadas e pistolas. O primeiro destino, um aquartelamento que seria inspeccionado pelo arquiduque, foi alcançado sem incidentes. Após esta paragem, seguiram para a câmara municipal, passando em frente a dois dos assassinos, Mehmedbašić e Čubrilović, que aguardavam junto ao jardim perto do café Mostar. Contudo os dois homens nada fizeram.
Eram 10:10 da manhã quando a comitiva passou defronte do terceiro assassino: Čabrinović arremessou a sua granada, que resvalou no toldo do automóvel, caindo na estrada e explodindo sob o carro seguinte, destruindo-o completamente.
Čabrinović engoliu um comprimido de cianeto e saltou para o rio. Ora o cianeto não actuou, deixando-o apenas com náuseas, e o rio corria com um caudal que não chegava aos 20 cm de profundidade. As coisas não correram bem para este atacante, que foi pescado das águas do Miljacka pela polícia, espancado pela multidão e preso.
A comitiva seguiu em velocidade acelerada para a Câmara Municipal. Cvjetko Popović, Gavrilo Princip e Trifun Grabež assistiram à passagem dos carros, mas aquela velocidade nada puderam fazer.
À chegada à Câmara o arquiduque estava justificadamente nervoso. Alguns sugeriram que o arquiduque se mantivesse no interior do edifício enquanto os militares que estavam em exercícios eram trazidos para assegurar a segurança na cidade. O governador Oskar Potiorek vetou essa hipótese alegando que os soldados vindos das manobras não estariam condignamente vestidos e concluindo com uma frase que ficou tristemente famosa: -“Mas pensam que Sarajevo está cheia de assassinos?”.
Ficou decidido cancelar o programa original e o arquiduque quis ir ao hospital visitar as vítimas do ataque à granada dessa manhã. O que se segue é uma sequência de incidentes de probabilidades remotas mas que determinaram o destino do arquiduque.
Gavrilo Princip está posicionado frente ao edifício que hoje alberga o Museu Sarajevo 1878-1918 (que não poderá perder se se interessa por esta temática). Não sabe que o percurso foi alterado, mas também não sabe a sorte que está prestes a ter.
O condutor da viatura que lidera o cortejo não é informado da mudança de planos e vira mesmo ali, seguindo o percurso previsto, que levaria os veículos até ao Museu Nacional. O governador, sempre ele, ordena ao conduto que pare para inverter a marcha. E onde? Precisamente em frente a Gavrilo Princip que, certamente não acreditando na sua boa fortuna, não perde tempo, dirigindo-se ao automóvel e disparando contra o arquiduque e a sua esposa, que morrem passados alguns minutos.
O assassinato daria origem à Primeira Guerra Mundial. O Império Austro-húngaro apresentou uma humilhante lista de exigências à Sérvia, sabendo da ligação dos assassinos à causa sérvia. Era uma lista que equivalia a uma declaração de guerra porque as condições eram inaceitáveis. O que se seguiu foi um imenso efeito de dominó, de declarações de guerra por aliança… a Rússia estava ligada à Sérvia e protegida pela França, que estava protegida pelo Reino Unido… enquanto o Império Austro-húngaro tinha uma forte aliança com a Alemanha.
Os assassinos e as pessoas envolvidas na operação foram detidos e condenados. Alguns, logo após o atentado, enquanto outros foram presos e julgados, ironicamente, pela Sérvia, após a Grande Guerra. Gavrilo Princip escapou à pena de morte por ter menos de vinte anos de idade. Mas não viveu muito mais. Condenado a 20 anos de prisão, faleceu em 1918 na prisão de Terezin (hoje, República Checa) em consequência de uma forte tuberculose.