A tensão andava no ar. Na Bósnia e Herzegovina sopravam ventos de independência mas esse rumo mexia com medos antigos, suscitava tensões. A minoria sérvia opõe-se e qualquer faísca pode iniciar um conflito em larga escala.
Em Março a passagem de um casamento sérvio pelo centro histórico de Sarajevo termina com violência. O pai do noivo morre nos confrontos.
No dia seguinte milícias sérvias tomam posições junto ao Parlamento. Receia-se um golpe, a população sai para a rua, manifesta-se, interpõe-se. A tentativa gora-se.
A independência é declarada a 3 de Março e há confrontos armados em diversas partes do país. Mas em Sarajevo a situação, apesar de tensa, mantém-se pacífica, se é que se pode usar esta palavra.
Tudo isso iria mudar muito em breve. 5 de Abril. Polícias de origem sérvia atacam várias esquadras e o centro de treino da polícia da cidade, detendo o comandante dessa escola. Um pouco mais tarde as milícias sérvias voltam a tentar controlar o Parlamento e de novo a população enche as artérias da cidade.
Os manifestantes pedem a paz, são de todas as classes sociais, de todos as crenças religiosas. Gritam-se palavras de ordem como Hoćemo ljubav, ne rat (Queremos Paz, Guerra Não) e Radnici DA – Ratnici NE (Trabalhadores sim, Combatentes não).
Os primeiros tiros são disparados do edifício do hotel Holiday Inn, utilizado como posto de comando dos sérvios nesses dias de crise. São os elementos da guarda pessoal de Karadzic que abrem fogo, sendo capturados pelos populares que invadem o edifício.
Foram detidos seis atiradores, trocados nesse mesmo dia pelo comandante da escola de polícia de Sarajevo.
Um pouco mais à frente soam mais disparos para os lados da ponte Vrbanja. Dois elementos da Liga Patriótica (ver imagem em baixo) respondem ao fogo abatendo um dos atacantes.
Os populares atravessam mesmo assim a ponte. Há mais tiros. As pessoas correm em pânico, tentam abrigar-se, sem perceber ainda de onde vêm os tiros. No chão jazem duas jovens, Suada Dilberović e Olga Sučić. A primeira, tinha 24 anos, era finalista do curso de Medicina, graduação que recebeu postumamente. Olga tinha 34 anos, dois filhos e era funcionária do Parlamento. São consideradas as primeiras vítimas da Guerra Civil em Sarajevo, as primeiras de muitas nos anos que se seguiram.
Os populares deram caça aos atiradores sérvios, que se encontravam no topo de edifícios na margem sul do rio. Escaparam todos, recuaram umas quantas casas, na direção do coração do bairro Kovačići, que já estava totalmente sob o controlo dos sérvios. Pouco depois a população é sobrevoada por dois aviões de combate em voo rasante. Nunca se saberá quem ceifou a vida das duas mulheres… se estes atiradores, se snipers posicionados mais acima, no Cemitério Judeu.
No dia seguinte a Bósnia-Herzegovina foi reconhecida como nação independente por doze países europeus, e na mesma semana pelos Estados Unidos da América.
No video que se segue os acontecimentos deste dia estão documentados de forma alargada:
Hoje em dia pode-se ver uma placa de homenagem na ponte onde tudo aconteceu…
O que se traduz como…