Os Stećci

Existe algo de muito particular nesta região da Europa: as Stećci, pedras tumulares medievais que se encontram sobretudo na Bósnia e Herzegovina (cerca de 60.000), mas com alguma presença também no Montenegro(3.500), na Croácia (4.400) e na Sérvia (2.100).

Estão colectivamente (28 necrópoles) inseridas na lista de Património Mundial da Humanidade da UNESCO desde 2016.

Este tipo de pedras tumulares começou a surgir no final do século XII, atingindo o seu apogeu nos séculos XIV e XV. Depois, no início do século XVI, chegaram os Otomanos e com eles desapareceu o hábito dos stećci.

O seu nome, stećak (stećci é o plural) vem de uma velha palavra das línguas eslavas do sul, stojećak, que significa “coisa alta”.

Uma parte destas pedras têm inscrições, geralmente em Bósnio Cirílico, algumas em Latim. As frases descrevem a morte heróica da pessoa, contêm informação sobre o falecido ou têm um principio religioso, sendo que nos exemplos mais simples, contêm apenas o nome e a data da morte.

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Mas a principal característica dos stećci são os elementos decorativos, sobretudo símbolos sociais, símbolos religiosos, elementos ornamentais e figuras geométricas. Muitos dos sinais mantêm uma auréola de mistério até aos dias de hoje, apesar dos estudos detalhados que têm sido feitos.

A maioria das pedras foram obtidas a partir de grandes blocos de pedra calcária, algumas chegando a pesar 29 toneladas, e quase todas as necrópoles se encontram próximo de antigas pedreiras. Eram colocadas sobre o local de enterro, na direcção Oeste-Este, para que o falecido pudesse observar o nascer do sol.

Se este assunto lhe interessa poderá consultar o excelente artigo, em inglês, na Wikipedia.

Radmlja

A necrópole de Radmlja, nas imediações de Stolac, é uma das mais importantes concentrações de stećci. Se tiver uma viatura própria pode visitar facilmente a partir de Mostar, caso contrário, poderá alojar-se em Stolac que de qualquer modo vale a pena.

Teoricamente o acesso à necrópole é pago, mas tenho encontrado o centro interpretativo, onde se encontra a bilheteira, encerrado. Nesse caso pode-se entrar livremente, sendo aconselhável a leitura dos textos explicativos existentes em paineís à entrada.

A maioria das pedras tumulares do recinto é do século XV, com as mais antigas a datar de 1480 e umas quantos do início do século XVI. Isto parece indicar que o lugar se encontrava associado à poderosa família de origem Vlach chamada Miloradović-Stjepanović, de crença cristã ortodoxa, que detinha terras desde Stolac até Mostar e que foram mais tarde incorporados no sistema do ocupante Otomano. Com a sua conversão ao Islão a necrópole deixou de ser usada.

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Encontram-se aqui 133 stećci. Existiam mais, mas a construção da estrada Čapljina-Stolac em 1882, durante o período Austro-Húngaro, destruiu 15 a 20 túmulos e separou o cemitério. Alguns stećci encontram-se fora do recinto, do lado oposto da estrada.

Há vestígios que indicam que a necrópole se encontra num local anteriormente utilizado para ritos funerários e que a populalação de Batnogne, como se chamava a localidade por essa altura, prosseguiu a tradição, enterrando aqui os seus mortos.

Cerca de metade das pedras tumulares de Radmlja estão decoradas com baixos-relevos ou talhe em pedra (ou uma combinação de ambos). Os blocos de pedra utilizados foram trazidos da pedreira existente no monte Ošanići, ali perto. O corte inicial, que reduzia o bloco às dimensões adequadas, era feito ainda na pedreira, sendo depois a pedra transportada para o cemitério onde os detalhes e os ornamentos eram efectuados.

Nas inscrições surgem pouca referências a nomes, surgindo a menção a Stipan Miloradović, aos seus filhos Radoja e Petar, a três outros habitantes de Batnoge e a três pedreiros: Miogost, Volašin Vogačić e Ratko Brativonić.

 

 

 

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Conheci a Bósnia-Herzegovina e o Montenegro em 2011, apesar de já ter ouvido muito sobre o país através do meu vizinho e amigo Vedo. Desde então regressei várias vezes, apaixonado pelo tom misterioso de um país que será talvez o menos visitado da Europa. Acabei por ser convidado pela The Wanderlust para organizar expedições à Bósnia e Herzegovina e Montenegro, tornando-me, por assim dizer, um profissional de viagem à Bósnia e Herzegovina.

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