A primeira vez que vi Perast foi em circunstâncias estranhas: já conhecia o local de documentários televisivos e de ouvir falar, mas não tinha bem a noção da sua localização. Partia de Kotor, em direcção à Bósnia-Herzegovina, quando ainda era muito verdinho nesta região… e quando do autocarro me apercebi que durante todos aqueles dias que tinha passado em Kotor poderia ter vindo até Perast e não vim. Limitei-me a ver pela janela e disse-lhe adeus.

Claro a falta foi corrigida mais tarde. Descobri e redescobri esta maravilhosa aldeia que se localiza a uns 6 km de Kotor. Aldeia hoje, porque no século XVIII era talvez o principal porto do Adriático, fervilhando de actividade sob a batuta dos comerciantes e administradores venezianos que ali se encontravam instalados.

Mas antes existiu outra História. No século X já Perast se tinha estabelecido, sendo por essa altura uma cidade autónoma enquadrada no Império Bizantino. Entre meados dos séculos XII e XIV fez parte do reino da Sérvia e foi a partir daí, com a integração no complexo mundo veneziano, que atingiu o seu auge.

perast-04

Muito do que hoje podemos ver em Perast é um fruto desses tempos áureos. Os palácios de Bjovic, de Zmajevic, de Badovic e de Smekja, por exemplo, foram construidos para poderosos armadores de Perast, com a influência arquitectónica de Veneza que está presente em tantas pequenas cidades costeiras do Adriático.

O património religioso é também ele relevante, com a igreja de São Nicolau, construida entre os séculos XV e XVII a distinguir-se. A igreja paroquial foi construida em 1740, pelo arquitecto veneziano Giuseppe Beati, mas pouco resta da edificação original.  Diz-se que o construtor recebeu 200 kg de ouro para a obra, que incluía a mais alta torre sineira da costa leste do Adriático, com 55 metros.

Existem duas pequenas ilhas ao largo de Perast, e que serão talvez a imagem de marca mais conhecida da localidade: a ilha de São Jorge e a ilha de Nossa Senhora da Rocha(Gospa od Škrpjela).

perast-02

Esta segunda é totalmente artificial e alberga a igreja com o mesmo nome. Segundo a lenda, pescadores terão encontrado uma imagem de Santa Maria neste local e construído a igreja em sua honra. A 22 de Julho há uma procissão nocturna marítima que envolve esta ilha numa auréola de luz fantástica.

Na ilha de São Jorge existe também uma igreja, ali construida no século XII pela Ordem dos Beneditinos.

Hoje em dia Perast é um lugar de visita essencial. Corresponde na perfeição ao imaginário da pequena cidade costeira do Adriático, formosa e pacata, com o mar como vizinho e uma imensa tranquilidade. Não levará muito tempo a explorar. Da estrada principal desce-se até ao nível da água por ruas não especialmente interessantes. O que importa encontra-se na marginal e na estreita ruela que lhe está paralela.

perast-03

Podemos visitar o museu, apreciar o ritmo pausado da vida local observado os velhotes que conversam na praça do museu. É possível visitar a ilha de Nossa Senhora da Rocha, mas os barqueiros fazem-se pagar bem.

Perast é também o local ideal para uma refeição ou uma simples bebida à beira-mar. Existem múltiplos restaurantes com esplanada e os preços são bastante razoáveis. Será melhor que não estejam presentes excursões de turistas, mas isso, claro, nunca se sabe.

 

 

COMPARTILHAR
Conheci a Bósnia-Herzegovina e o Montenegro em 2011, apesar de já ter ouvido muito sobre o país através do meu vizinho e amigo Vedo. Desde então regressei várias vezes, apaixonado pelo tom misterioso de um país que será talvez o menos visitado da Europa. Acabei por ser convidado pela The Wanderlust para organizar expedições à Bósnia e Herzegovina e Montenegro, tornando-me, por assim dizer, um profissional de viagem à Bósnia e Herzegovina.

DEIXE UMA RESPOSTA